Campeão de luta individual e tri-campeão brasileiro de equipes no karatê Shotokan em 2010, Jayme Sandall foi um dos grandes destaques da seleção brasileira que venceu o sul-americano, disputado no dia 19 de setembro em Belém. O curioso é que para conseguir estes títulos o carioca treinou sózinho. "Desde setembro de 2009 após a volta do UFC 103, aonde ajudei nos treinos de Vitor Belfort, por problemas de horário e de trabalho, passei a treinar sozinho, Eventualmente treinava com Vinício Antony e Vitor Belfort. Vinício, inclusive, me ajudou muito me passando treinamentos mais profissionais, muito parecidos com os que os lutadores de MMA fazem”, comenta Jayme. Após esse período difícil, as coisas só pioraram para Jayme. Em fevereiro de 2010, a academia aonde ele dava aula foi veio abaixo, e desde então ele ficou sem dar aulas e ter aonde treinar, Jayme passou a treinar no bosque do condomínio Barra Sul, na Barra da Tijuca. “Na vida, se nós deixarmos um obstáculo nos atrapalhar, não vamos pra frente. Por isso, na maioria das vezes eu treinava sozinho, algumas outras com dois alunos meus, e outras com um grande amigo que é faixa preta”.
Para não perder o ritmo e manter a forma, Jayme, com a ajuda de Vinício Antony, fez um novo treinamento e adaptou as suas condições. “Quando chove forte, faço um treino que desenvolvi específico para o karatê, na escada do meu prédio. No bosque, levo meu aparador para poder bater, e meu extensor de borracha, que tem sido um grande plus no meu treinamento de explosão. Faço o reforço muscular em casa, com pesos que comprei. Chego sempre em casa sujo coma terra do bosque, e quando o chão está molhado, chego cheio de lama. Minha mulher adora, para não dizer o contrário (risos)”.
Mostrando que tem força de vontade para continuar, Jayme mostra que a batalha continua e espera em breve ter um patrocínio para ajudá-lo no que for preciso.
“Por incrível que pareça, seguindo esse treinamento que o Vinício me passou,estou treinando seis vezes por semana sem desanimar e meu desempenho melhorou. É como eu disse, para ser campeão tem que ter força de vontade e seguir em frente. Ficar se lamentando, choramingando, não leva a lugar nenhum”.
Em qual categoria você venceu o Sul-Americano ?
Luta por equipes. Fiz um total de cinco lutas (individual + equipe) e venci quatro.
Depois que ajudou o Vitor para a luta com o Franklin parou de treiná-lo?
Não, continuamos treinando direto depois da luta. Nos últimos dois meses é que ele foi para os EUA, e então paramos de treinar. Mas havia a idéia de eu e Vinício Antony irmos para os EUA para o último mês de preparação dele para a luta com o Okami - que foi cancelada.
Como você viu a derrota do Lyoto?
Fiquei sem dormir naquela noite. Foi muito difícil ver um amigo perder, ser nocauteado. Mas são coisas da vida de qualquer lutador. Acho que o Shogum lutou muito bem, estava com a cabeça muito boa e conseguiu impor seu jogo. Mérito total dele.
Depois que o Lyoto perdeu, o Belfort parou de dar ênfase aos treinos de Karatê?
Na verdade não. Logo depois da derrota, continuamos treinando. Ele inclusive trouxe alguns equipamentos novos muito interessantes dos EUA, como extensores especiais. O Vinício puxava os treinos e eu e Vitor treinávamos forte. O Vitor procurou o karatê em 2001, bem antes de o Lyoto fazer sucesso. E ele sabe das qualidades do Shotokan. É claro que as vitórias do Lyoto foram um estímulo, mas quem conhece o Shotokan bem praticado, confia.
Como vê o confronto dele com o Anderson?
Que o Anderson é um dos melhores lutadores de todos os tempos, eu nem preciso falar. Todo mundo sabe. O Vitor também - não é a toa que recebeu o apelido de "fenômeno". Acho que vai ser uma das melhores lutas da história do MMA, onde tudo pode acontecer - desde a trocação franca até uma finalização no chão. Acredito que vai ser uma luta muito estudada, os dois vão tomar muito cuidado e tentar ser precisos, porque um erro nessa luta pode ser fatal.
Como conseguiu ser campeão treinando sozinho?
Obstinação. Se eu deixar os problemas me desanimarem, ficar me lamentando que não tenho a estrutura ideal, nem patrocínio, e todo esse blá blá blá, não vou chegar a lugar nenhum. Por isso coloquei na cabeça que isso ia ser bom pra mim, que eu poderia fazer treinos mais específicos, e usei a adversidade como estímulo. O Vinício passou umas séries de treinos bem interessantes que eu consegui fazer sozinho. Às vezes treinava na chuva, porque tenho treinado ao ar livre. E, tomando água na cabeça, escorregando na lama, ficava com raiva, e usava isso para treinar com mais força. No final, acabou dando certo...
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